Óleo de cozinha é o vilão do esgoto no centro de SP, região líder em reparos

No bar de uma esquina do bairro da República, no centro de São Paulo, executivos comem provolone à milanesa enquanto bebem cerveja. Na mesa ao lado, jovens se empanturram com batata frita. Mais adiante, um restaurante tem o torresmo como uma de suas atrações.

Por ali, o óleo é ingrediente fundamental nas refeições, mas é também a causa de um enorme problema para o sistema de esgoto da cidade.

Um levantamento inédito da Sabesp reuniu dados sobre metade da rede de esgoto de São Paulo e apontou que a região da Sé é a que mais sofre com entupimentos na capital paulista. E, segundo técnicos e engenheiros da empresa, o óleo de cozinha é um dos principais vilões da região.

De acordo com a Sabesp, toda a região do centro da cidade teve em 12 meses –de junho de 2015 a maio de 2016– o índice de 185 reparos por quilômetro de esgoto na região. Isso equivale a um desentupimento por quilômetro a cada dois dias.

RESTAURANTES

A grande concentração de restaurantes na região é um dos agravantes do problema.

Segundo uma portaria da Prefeitura de São Paulo, todos os restaurantes e bares são obrigados a ter uma caixa de gordura instalada. A portaria, no entanto, não fixa nenhuma punição ao infrator.

Nos últimos dez anos, foram propostas três leis municipais com o objetivo de regular a obrigatoriedade da caixa de gordura. Mas nenhuma foi aprovada ainda.

A caixa é responsável por separar óleos e gordura do restante do esgoto produzido pelo estabelecimento. Ela precisa ser limpa regularmente para evitar que o acúmulo da gordura acabe entrando na rede coletora de esgoto.

Mas nem todos os estabelecimentos têm suas caixas de gordura ou as mantém devidamente limpas.

Pouco a pouco, o óleo que escorre pelos ralos das pias das cozinhas se acumula na nas tubulações. O material forma grandes placas de gordura que se misturam com outros dejetos que não deveriam estar no esgoto (fios de cabelo, preservativos, papéis etc.).

Com isso, as tubulações sofrem um verdadeiro infarto. O efeito em algumas casas é que o esgoto pode voltar para as residências ou vazar pela rua, causando enorme mau cheiro.

“É uma questão de saneamento, saúde pública e meio ambiente. Muitas vezes, um restaurante descarta irregularmente o esgoto e quem vai sofrer é o vizinho, já que o esgoto pode extravasar na rua em frente da sua casa”, afirma Valéria Moia Angeli, engenheira da Sabesp.

Em junho, a Folha acompanhou uma operação de desentupimento causado por gorduras em uma rua em Santo Amaro, na zona sul de SP.

O local da ação era um quarteirão com cerca de 20 restaurantes, informalmente chamado por funcionários da Sabesp de “quarteirão do óleo”. Sob a tampa de um bueiro havia uma camada de 1,50 metro de gordura entupindo o fluxo de esgoto. Os dejetos estavam próximos do nível da rua e em pouco tempo poderiam extravasar.

Para evitar o infarto da rede, a orientação é que todos os estabelecimentos com uma grande cozinha tenham uma caixa de gordura em perfeito estado. Em casa, os moradores devem estocar o óleo que não será mais utilizado. O material pode ser entregue em alguns supermercados ou em postos da Sabesp.

CHUVA

Depois da região central, a área com maior índice de entupimentos é a de São Mateus, na zona leste, com 171 reparos anuais por quilômetro. Por ali, no entanto, o principal problema é outro.

De acordo com um decreto estadual, a água da chuva captada por calhas ou ralos não pode ser conectada na rede de esgoto – algo que é comum no bairro. Em um dia de chuva, uma grande quantidade de água entra no esgoto subitamente e o aumento da vazão acaba danificando as tubulações.

Para evitar isso, a recomendação é que as calhas de chuva e ralos de quintal tenham saída separada do esgoto, para ser despejada em galerias de chuva da prefeitura ou na sarjeta em frente ao imóvel.

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